domingo, 28 de outubro de 2018

FAZENDA DO DIAMANTE

Há alguns anos recebi esse belo poema escrito por Jerônimo Vieira Neto. 

Trata-se de uma canção da saudade daquele que viveu em uma das maiores fazendas do Pompéu. 

Jerônimo Vieira Neto nasceu aos 7 de julho de 1910 e foi casado com Geralda Dolores do Nascimento Vieira. Deixou os filhos Plínio, Miguel, Jerônimo, Terezinha, Pedro e Geraldo Cândido. Homem culto e de grande preocupação com a memória preservou vasto acervo documental e fotográfico. 

Segue o poema que me foi passado por sua sobrinha Dra. Mirtes Magnária Vieira Gomes. 



A antiga sede da Fazenda do Diamante
Hoje o local está submerso pelo lago da represa de Três Marias 
Foto cedida por Dr. Odilon Lobato 





A Fazenda do Diamante
Bicentenária do lugá
Criou muitos homens
Que até hoje tem que louvá

A sua descendência
Eu tenho que ignorá
Deve ter alguém que sabia
O primeiro morador do lugá

O velho Sinhô Jerome
È o que deixou mais fama
Possuidor de muitos escravos
E de grande família bacana

Não havia ladroagem
Nem mesmo mexeriqueiro
Era tudo perseguido
E a ordem voltava ligeiro

Ali tinha tudo: ordem, religião, moral, costume
Quem pisasse fora disso
Ia pro escuro sem lume

Possuidor de muito gado
Engenho de cana e chácara de café
Uma lavoura medonha
Que conto tudo como é

Tinha senzala de escravos
No centro da casa de mora
E em roda da fazenda
Tinha casas pra eles habitá

Os escravos viviam juntos
Cada qual tinha sua muié
Precisava vocês terem visto aquilo
Pra conta depois como é.

A roda d’água do engenho
Tocava a mão de pilão
Funcionavam os fusos
Que as negras faziam um pavão

O véio ia pra perto
Na hora das negras fiá
Gostava de ver o movimento
E também das negras cantá

Pra não matratar as negras
Não gostava de feitor
A direção do serviço
Era um negro de confiança e valor

Tinha toda diversão
Instrumentos de criagens africana
Pandeiro, tambor, urucungo
Berinbau, guitarra e havaiana

Os instrumentos indígenas
Da época do Brasil Colonial
Pinta, reco-reco, porunga
Faziam um barulho infernal.

A viola portuguesa
Aqui também havia
Dançavam batendo o pé
Era uma poeira que fazia

Da sanfona italiana
Desta também vou fala
E os escravos mais velhos
Na de oito baixo era bão pra daná.

Havia tantas danças
Que já estão desaparecidas
A guaiana, o jacaré, o gambá
Boa paz com pinga corrida

As danças africanas
Conservadas pelo Honório, capitão
Eram diferentes das outras
Pelo modo de pisá no chão

Deixamos os mais instrumentos
Que nem sei mencioná
Falo da liberdade dos negros
O que com eles vi passa

No dia da liberdade
O véio, veio fala
Vocês estão livres como eu
A honra que quiser pode muda

Essa vida levou um ano
Os escravos sempre na fazenda
Trabalhando e correndo
Com a liberdade ia na venda

O escravo Tio Chico
Foi passear no Barro Alto,
Na venda do Pedro Epifânio
Onde aconteceu este fato:

Antônio Garrucha lia um
jornal que dizia:
Todo escravo que ficar na fazenda mais de
um ano perde a forria.

O nego tio Chico alertou os outros pra dar uma arribada
Quando foi no outro dia
Reuniu toda negrada

Mas o Sinhô Jerome acalmou eles
Não deixou ir abanano as mãos
Manda João Ferreira
Passá pra todos um título de mão

Doando a eles 20 alqueires de mata
Oitenta de Campo e cerrado
E não quis que eles saíssem
Assim tão apressados.

Mandou matar dois capados
Deu arroz feijão e farinha
Enchendo pra eles os sacos
Porque muitas coisas ele tinha.

Os negos não tinham raciocínio
Faziam o que era mandado
Não levou nem um ano
Voltaram todos acabrunhados.

Até hoje existe um dos descendentes negro/na fazenda do Quim
É só ir lá pra sabê
Se acaso não foi assim.

 Não conto mais nada
Porque os anos são passados
Só sei desses casos
porque os negros restantes tem me contado

A mocidade de hoje
Não quer saber história do passado
Se eu não tivesse escrito isso
Nada tinha recordado

Foi assim que viveu nossa família famosa
Vai ficar pra eternidade
Foi moral exemplar e religiosa

O velho deixou 6 filhos
Todos fazendeiros afamados
Não sei se os netos conservam
A dignidade dos velhos falados

Sinhá Gorda sendo mais velha
Casou-se com Sinhô Martins
Ele sendo tio dela
O casamento foi assim.

Depois sinhô Pedro
residente no Curral Velho
Foi bastante viajado
Andou muito e morreu velho

O 3º é o Sinhô Cândido
Morava na Marmelada
Possuía muito gado e 1 carro Sedan
Tinha uma vida regulada

O 4º e o Sinhô Jeruminho
Que ficou morador do Diamante
O mais famoso dos filhos
Seu passado é interessante.

Sinhô Cândido casou-se com Clara
Sinhô Pedro casou-se com Joana
Sinhô Jerônimo casou-se com Rosa
Todas filhas da Tia Tina das Mamonas

Sendo filhas do Chico Lino
Dono das Mamonas Também
Deu licença de suas 3 filhas casarem c/ 3 irmãos
Que são gente de bem.

A 5ª filha é Sinhá Quita
Casada com João Ferreira
Deixou família em São Gotardo
Em Dores muitos herdeiros
.
Falo agora de Sinhá Emília
Casada com Pedro Lino
O Nô filho deles
Foi um poeta menino.

Falo agora do caçula Sinhô Miguel
Morador do Sucuiú
Onde conserva os instrumentos e danças
O congado, caratê e cururu

Quem escreveu esta história verdadeira
É o filho do Miguel, neto do velho honrado
Pra todos ficarem sabendo
Como foi o passado.


Jerônimo Antônio Vieira Rabello (Jerônimo do Diamante)
Bisneto de Dona Joaquina do Pompéu e Cap. Inácio de Oliveira Campos
Nascido aos 20 de dezembro de 1823 e falecido aos 8 de outubro de 1895.
Foi casado com Ignés Umbelina de Oliveira e Silva também bisneta do casal do Pompéu


Jerônimo Antônio Vieira Rabello Filho com sua esposa e prima Rosa Lino Fiuza




Jerônimo Vieira Neto e suas alunas da escola da Fazenda Sucuiu


Casamento de Francisco Procópio Lobato com Inês Umbelina, filha de Jerônimo Filho e Rosa Lino Fiúza na fazenda do Diamante
1905
Nesta foto aparecem dentre outros o Padre João Porto e Matias Lobato 


Pedro de Alcântara Vieira 
(Pedro do Curral Velho)
Filho de Jerônimo Antônio Vieira Rabello (Jerônimo do Diamante)
Foi casado com sua sobrinha Joana Lino Fiúza







Um comentário:

  1. Jerônimo A.Vieira Rabelo é meu ancestral. Vc teria mais informações ou foto sobre essa fazenda? Gostaria de conhecer mais sobre os meus antepassado.

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